sexta-feira, 3 de julho de 2009


PROFESSOR VÊ PRECONCEITO EM COBERTURA DE TRAGÉDIA COM AVIÕES.
Lucia Jardim ( SITE TERRA)
Direto de Paris


Seja no oceano Atlântico ou no Índico, 137 franceses perderam a vida em um acidente de avião em menos de um mês - 72, dos quais 11 eram da tripulação, no voo AF 447 da Air France, e 65 no voo IY 749 da Yemenia. No entanto, esta segunda tragédia, que deixou como saldo um número vítimas semelhante à primeira, não suscitou a mesma comoção no país. E o motivo, lamenta Jérémie Gandin, da Escola Superior de Jornalismo, é o que pode ser definido no mínimo como preconceito.
"Infelizmente, no imaginário dos franceses, um francês de origem comoriana parece ser menos francês do que um que nasceu em Paris. É triste. Como os passageiros eram todos negros, parece que a França e a mídia francesa se interessam menos por essas vítimas, sendo que, na verdade, eles são igualmente compatriotas", afirma o professor, especialista em televisão e titular da escola que uma das mais respeitadas na formação de comunicadores no país.
Ao longo da terça-feira, dia do segundo acidente, os telejornais não gastaram mais do que dez minutos para falar da catástrofe, mesmo que mais do que um terço das 152 vítimas fosse de nacionalidade francesa. Nos sites dos principais jornais, como o Le Monde ou o Libération, o acidente, por poucos instantes, ocupou os espaços de maior destaque, como a manchete. O interesse era nitidamente menor, se comparado ao vôo proveniente do Brasil.
No acidente da Air France, ao contrário, a mídia francesa não falou de outro assunto durante diversos dias consecutivos. Tal como na imprensa brasileira, na França todas as abordagens relativas ao acidente - investigações, causas, localização de destroços e corpos, famílias de vítimas ou indenizações - recebiam atenção especial.
O fato de este novo drama não envolver uma companhia aérea francesa e de o acidente ter ocorrido no último percurso de um trajeto com três escalas influencia a cobertura menos intensa. Resta saber o quanto pesa o fato de os 65 mortos serem humildes, de origem africana, e em sua maioria habitantes da periferia de Paris ou, principalmente, Marselha. A cidade litorânea abriga a segunda maior comunidade imigrante e muçulmana do país.

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